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quarta-feira, 24 de junho de 2009

visita

do ardente
fogo
envolto em sins


ao elevado
tom das chuvas.


assim te peço
uma visita.


de saída. em fuga.
ou lida. sem ter hora.


Mas te peço assim que venhas
embebedar-se de águas
e fonte.

o Desejo nascente.


contínuo movimento
ali situado.


ali no presente.
na ardência dos olhares.


e nos detalhes. nas cintilâncias.
nos olhos perfilados.


nas cores revisitadas.
até onde a vista alcança.


nos telhados. quando
lágrimas.


te peço assim que venhas
como uma visita
triste. fugidia.
mas que se demore.
o dia.


que se descubra
quando ausente.

e que se despeça lenta
enquanto a febre
não estiver ainda
tomando a pele.

nesse dia então
eu te faria sala.

como um entre-lugar
imóvel sobre a máquina
de costura

já sem uso.
sem visitas.

em sua gaveta, o semi-tudo:



o tempo. sua cortina.
tecidos e teias. sua costura

na cortina, a poeira;
o esquecimento.

assim te peço visitar-me,
o Desejo.

assim te descubro.
lento.

esquecido. sábio.
e desfazente.

um sequestro de horas.
ali, nos repentes.

intacta em seus móveis.

o Desejo

a espreitar-me
a hora,
os movimentos.

(assim o desejo. seu norte).
uma visita imóvel pela casa.
(assim o desejo).

em tempo.




segunda-feira, 15 de junho de 2009

Tempo de Bandeira (verdes tons amarelados)

São horas de bandeiras. E brisa.

E tempo de maçãs
e fomes.

Mordidas, e tempo
de amores
descomedidos. E licores.


São horas de bandeiras
e cores
vermelhas.

Sinais fechados, e não.
Apitos de trem. Carvão;

Fumaça. E moinhos. Centelhas.
Tempo aquecido de fugazes
retornos. De limbos lugares.
De bagagens refeitas.

De passos. Estorvo.

São dias de orvalho.

E lentas horas
e flores. E dança.

Tempo de crianças
e palhaços. Tempo de demoras.


E lágrimas. E vidas.

Pétalas para todos. Os odores.

Os cânticos, os serenos, as quinas.
Dobradiças.

E calcanhares.

É tempo de sorriso
de horas. Ponteiros. E lanças.

Telas.

E pinturas em pele.
Partituras em movimento.

Tudo antes retilíneo.
E sinal
fechado.

Agora, o giro.

O salto.

O tempo
em recontagem de horas.

E de verdes tons amarelados.




sexta-feira, 12 de junho de 2009

Cantigas e Danças

para Erinha Ribeiro


te amo um amor
cantante

um amor
que se canta
enquanto
durmo e permaneço em sonho
sem ter voz que o cante

sem uma voz que o cante
como se canta um amor divino,
um amor sem corpo,
nome ou destino.

um amor semente

amor que se sente
em sonho
em vida,
eterno e
presente.

um amor de acordes
e melodias matinais.

imagem-cortina
de algum antigo filme

atenuando o dia

aquecido de sóis.

uma imagem em branco e preto
que, não se apagando da memória,
permanece viva
em cores e sons
num canto qualquer
de qualquer soneto.

te amo um amor
dançante

uma dança
de passos disformes

um par, em uníssono

cada um
uma dança

cada som em silêncio

e cada dois
em amor
velado e mudo,

um amor puro e verdadeiro.
E eterno em cada vão momento.