Nem um instante somente meu.Milênios em branco e preto e nenhum arameserá igual às roupas brancas quandodependuradas num varal.Pois ao navegar em sua hora,o instante, em novo movimento,trará ao sol algum antigo desenho de
bandeiras ao vento.
(Baile irreconhecível a olho nu.)
Mas reconheço:
ele (o instante) também se ausentou
de mim
nas horas em que dormi.
Quando velou outros sonos, saciou e viu outros instantes saciarem outras sedes. Esteve perto e fugaz.
Não o capturei. Fui áspero às vezes.Rude, talvez. Mas tive sede. E água não me faltou.Mas tive, em seguida, outras sedes e fome.E comida e água não me faltaram.Não tive saída. Voltei a visitar esquinas; a dar voltas em torno da lâmpada.Voltei a sentir fome e sede... (senti faíscas).E aquele instante cada vez mais longe e de saída...Uma vaga lembrança enquanto coisa vagamente esquecida. Mas, quando de sua volta,vi em sua face outra máscara,um novo escape em fúria e em gesto
se fez Vida-despedida...
Tentei segurá-lo, evitar a queda. O acenar de mãos...Tentei novamente capturá-lo.E, sem êxito a cada tentativa,fui capturando meu próprio silêncio.E logo, calei-me. Virei um fóssil em vida.O que mais queria era torná-lo vida presente. Mas sempre a fuga, o abandono. A despedida.
E por ter ido; silêncio ter sido, foi viajar palavra.
Terço de mim; do que sou: Palavra-instante
(l-e-t-r-a)
Tecido colande, apegado a mim. A palavra.
O instante.
A cola, o mel que se renova.
E por isso, não aquele, mas outros,de outros,de fomes e sedes outras,outros instantes meus virão de novovelar-me a vida.Dar-me outra vez a voz. A saída.