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segunda-feira, 27 de abril de 2009

o que flauta e flutua



o que flauta
flutua
em minha aberta mágoa

é uma carne
a parte
do corte

a fome



sem-nome

a fome de ter fome: ávida marca

ou o fio
o talho
dos panos
retalhos

fio-d'água
- sentença de fé ou

de
lírio -

contempla
a calma
na palma
o aperto
da mão
o parto
o quarto
: semente dourada:
sol-i-dão

mas o pouso
flauta e flutua
não tarda: baila em torno de si

e deixa ainda aberta

a mágoa.

terça-feira, 21 de abril de 2009

poema num vácuo calculado e impreciso espaço


Deixa-se sentir

tanto quanto

deixar-se-ia livre
acaso fosse

ABERTA-FLOR

a palavra espacial

botão que se abre

INSTANTE-SÓ
e se perde VÃO
no breu de vagas páginas e pó



mas se acaso NÃO

Então
não-hora
e não-dia

Não é de se imaginar:

SAIRIA
fria
acaso fosse
NÃO-ROSA

Orquídea-não

a palavra vazia

domingo, 12 de abril de 2009

Morte cotidiana

Por enfado, viver.

Mas seguir cantando
o cansaço

(a corrida
quando volta
ao primeiro passo).

Cantar a dor
numa ligeira ode
(um ligeiro pranto).

Um canto onde se notem

lírios e acalantos;
delírios e morte

(Mas não a morte
suja do sangue
sujo dos homens mortos).

Sim, a pequena morte.

A dos dias de sempre.

Morte na quitanda,
no campo em flor.

(Morte-sobremesa,
sobre a cama:
graça e dor).

A morte sepultada
no peito da enorme mágoa.

Ou a morte esperançosa,
a que pede abrigo
e tece crença
enquanto espera
em silêncio

a sua pontual hora
(sua presença).


Ó morte pequena

(essa que anda a passos lentos,
e beija a face antes
de despejar-lhe
o veneno)

trazei-me horas de acalanto
em teu berço eterno;

trazei-me o olhar sereno,
teus cânticos e sonetos,

o ouvido atento...

Ou talvez, momentos
mais terrenos
ainda, enquanto feto.

Para que
outra vez eu sinta
(e melhor)
o odor das peles

e a beleza finita
dos solares raios
e suas avenidas

entre folhas e ramagens
nos fins de tarde;

Para que
outra vez eu toque
a minha pele
e a deixe sentida
sobre a escassez
de matéria
das coisas
cotidianas da vida.




segunda-feira, 6 de abril de 2009

Paraléxico

um poema que não havia

(a via - travessia)

seus
versos
se iam
por aí
nalgum
uni
verso
(paralelo?)