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domingo, 17 de maio de 2009

Fomes e febres

sua visão febril
sua falsa fome

no peito de quem dorme,
uma selva:

"tornam-lhe os maus instintos

a alameda deserta"

(sua negra placa
de verbo-musgo)

- uma nesga
dessa floresta -


(sua fronteira)


sorvo tudo em sonho
e durmo

bem alto
um sono profundo.

Estatelado e mudo.


Levanto e
vejo claridade

e o despencar de
uma ave
num céu de chumbo.


E sua visão febril
e sua fome

- nomes que acalentam
enganos
e medos -

(seus túmulos)


e seu canto que obriga
um entrecortante grito

entre muros
e árvores

(férvido desejo)


uma vida assim andante
e o canto, e o grito
no alçapão
entre fomes e febres


aquele desejo que ferve
por não ser nunca atendido

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Um mundo de festas


Eis aqui uma página ensanguentada
tinta vermelha, suor nas sílabas
olhos paginados e voz fingida

Eis um calo na fala

cordas que silenciam palavras



Sempre foi de haver coisa sem nome
coisa sem pele
sem cheiro e cor
sem fezes


Mas sempre o segredo encobriu a lógica

e nunca a palavra se fez
completa

sempre alguma falha alguma
brecha

(ciladas)

Eis aqui o mundo das faltas
um mundo de festas

terça-feira, 12 de maio de 2009

Enquanto

Enquanto queima
tudo é chama

tudo arde
enquanto clama

o desejo
de quem
pede
um pouco
de cama e...

... segredo...

E quando cala
- bala no peito -

abala a música

do corpo salta


(precipício)

outro momento
que pede água

e beijo...

(mas silênc...)