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sábado, 30 de junho de 2012

aos leitores

Um abraço aos leitores que, desde o início, ou recentemente, têm frequentado este espaço.


Quero lhes dizer que, a partir de agora, esta oficina de criação poética já cumpriu o seu papel e, por isso, não estará mais ativa.

Ao longo de quase cinco anos criando, postando, apagando, reescrevendo, editando, lendo e respondendo a comentários, consegui fitrar tudo numa coletânia que, hoje, posso chamar de livro. E talvez por isso tanto tempo sem novas postagens. O livro "Das horas" está pronto. Aguarda, no entanto, algum período ainda de gestação. Este espaço, agradecendo aos colegas blogueiros, já era. Uma nova era surge, ainda que em gestação.



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Dez de novembro

Para Erinha Ribeiro


Hoje o dia
é de luz;

de cores e data
definidas.

Outrora surgira
do ventre
a vida —
agora presente
em data comemorativa.

Esta de hoje, menina,
mulher já foi um dia
em berço acordada.

Buscava seu espaço
a cada acalanto;

e a cada ano que se seguia,
ela, menina, ia se espaçando,
como quem se espreguiça
em alvorada.

Até o dia em que
surgira ao longe
um novo canto.

Era o de uma nova vida:
a dois — repartida.

E repartir (ela descobre)
exige rotina.

Exige das retinas
atenção dividida.

Então ela
percebe o quanto
é bom ser amada
em vida.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

ventilando poesia

ventilando
  a verve
forjada


o poeta
   finge


a poesia
   falsa


os dizeres
são agora
os de dentro


estão ocultos
sob a pele das palavras


mas não há calma


há verbos de violência força
musculando fuga


topar o torpor esquecido


correr o salto, o risco


sacudir
a quietude dos dias


ventilando poesia

sexta-feira, 3 de junho de 2011

ouse em águas

ouse
um dia
se deixar
lavar nas águas do rio

sinta suas pedras;
o caminho.

mas ouse o curso
do rio
ao mar

ouse tocar
o medo;
o revés da barca.

(sinta a farsa;
a febre;
o delírio
de avessos versos)

ou se
cair o peso
em águas
como âncora

que se deixe
estar
sob as ondas

tendo braços
a remo

tendo o peito
ainda
por encher

de outras
águas
a enchente

e de outros
versos o poente

ouse
e se deixe
leme

sexta-feira, 11 de março de 2011

descoberta paisagem

há minas
e luzes
sob o véu da cidade

luminosidades
nos olhos
transitantes
dos homens que cruzam
suas pontes
ruas e avenidas

(E como queriam
todos
tocar a pele
intacta do ocultoso
verso?!...)

Como
lâminas,
pés
descalços
traçam um risco
tísico
no viscoso chão
da cidade

mas
ante o brilho
luminoso
que se lança
mortiço
ao horizonte

eis que
surge
um grito rouco
de uma voz que se consome
e se percebe
limitada

pois essa voz
reconhece
descoberta a paisagem
diversa
e a incapacidade
dos tocares íntimos
por desenhos-palavra

melhor
sentir a canção
de olhos vendados
a seguir
às cegas
as vozes
roucas
da cidade