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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Bolero

Para Roni

"Somos então
poetas".

Assim disse o poeta
quando defronte
de um tema ravélico pensou plagiá-lo.

Como um bolero de comparsas.
Um sopro orgânico na boêmia dos jardins noturnos.

Assim o plagiaremos.

Um bolero épico
no canto dos pássaros que agora
revigoram o dia.
Que agora saboreiam
o momento de campear nova trilha. A dois.
E em revoada.  

Até que assim, ao som de flautins embriagados,
e encaixados na claridade percursiva
de fadas enamoradas,
o lamento emudecido dê  
lugar ao esmero
trabalho que há no canto dos pássaros.

Ao louvarem o dia em sua sempre 
luminosidade rara.

Um bolero
em dança uniforme e
contagiosa.

Mas plagiado em seus trajes,
se descobre valsa.

E ao recuar sua dança,
ao retardar sua fala,
pede furtivamente aos da sala que não tolerem
farsas. Que dancem a dança
da então Valsa.

"Somos então poetas,
meu caro".

Dancemos a valsa.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

última cena

a Tazio Zambi



o erro na última cena
o xeque      
e a cara do guri arrematada de fome
                                 
este espasmo       
lúdico no ato  
involuntário de atirar-se da tela
                 
um rosto de criança  
uma palavra subterrânea  
e um desejo abaixo da pele    
                                       
tudo isso não revele   
o pulsar no peito   
a palidez da esperança 
a mão que esconde a bola de gude        
e o esguio olhar de fora
da tela

na última cena

no arremate                                  
   
no limiar do disfarce 
       
xeque-mate