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domingo, 17 de maio de 2009

Fomes e febres

sua visão febril
sua falsa fome

no peito de quem dorme,
uma selva:

"tornam-lhe os maus instintos

a alameda deserta"

(sua negra placa
de verbo-musgo)

- uma nesga
dessa floresta -


(sua fronteira)


sorvo tudo em sonho
e durmo

bem alto
um sono profundo.

Estatelado e mudo.


Levanto e
vejo claridade

e o despencar de
uma ave
num céu de chumbo.


E sua visão febril
e sua fome

- nomes que acalentam
enganos
e medos -

(seus túmulos)


e seu canto que obriga
um entrecortante grito

entre muros
e árvores

(férvido desejo)


uma vida assim andante
e o canto, e o grito
no alçapão
entre fomes e febres


aquele desejo que ferve
por não ser nunca atendido

2 comentários:

Bárbara disse...

"aquele desejo que ferve
por não ser nunca atendido"

Esses versos resumem meu estado de espírito nesse momento, como aliás todo o poema. Vai ser difícil apagá-los de minha cabeça.

(minha visão febril e minha fome
tem hoje um só nome)

Bruno Ribeiro disse...

Valeu, Bárbara.
Mesmo tendo sido num momento delicado de sua vida (espero que já superado), a leitura que você fez deste poema, e sobretudo, o efeito que você diz ter sentido por causa dele, isso tudo me deixa bastante envaidecido. Afinal, é a poesia, seus versos, "tocando" a alma das pessoas, ainda mais a de alguém como você. Não quero parecer narcisista, mas isso realmente é muito importante pra mim enquanto poeta.
Valeu, OBRIGADO.