Por enfado, viver.
Mas seguir cantando
o cansaço
(a corrida
quando volta
ao primeiro passo).
Cantar a dor
numa ligeira ode
(um ligeiro pranto).
Um canto onde se notem
lírios e acalantos;
delírios e morte
(Mas não a morte
suja do sangue
sujo dos homens mortos).
Sim, a pequena morte.
A dos dias de sempre.
Morte na quitanda,
no campo em flor.
(Morte-sobremesa,
sobre a cama:
graça e dor).
A morte sepultada
no peito da enorme mágoa.
Ou a morte esperançosa,
a que pede abrigo
e tece crença
enquanto espera
em silêncio
a sua pontual hora
(sua presença).
Ó morte pequena
(essa que anda a passos lentos,
e beija a face antes
de despejar-lhe
o veneno)
trazei-me horas de acalanto
em teu berço eterno;
trazei-me o olhar sereno,
teus cânticos e sonetos,
o ouvido atento...
Ou talvez, momentos
mais terrenos
ainda, enquanto feto.
Para que
outra vez eu sinta
(e melhor)
o odor das peles
e a beleza finita
dos solares raios
e suas avenidas
entre folhas e ramagens
nos fins de tarde;
Para que
outra vez eu toque
a minha pele
e a deixe sentida
sobre a escassez
de matéria
das coisas
cotidianas da vida.
Um comentário:
A vida é mesmo um sem-sentido de coisas. Às vezes, a gente não espera mais nada dela, mas segue vivendo, só e somente só, porque continua respirando, e a morte pequena segue como uma sombra.
Postar um comentário