"Um galo sozinho não tece uma manhã"
(Tecendo a manhã - João Cabral de Melo Neto)
só agora me chega o canto do galo.
ele urge, implora verso;
outro rumo, nova faca.
(duas noites dividem o dia)
nos telhados, gatos se amam
em amor de gato;
num cinzeiro,
o esquecimento do cigarro aceso
me faz lembrar das horas,
da demora, da vida que não espera
e canta seu novo canto
num outro galo.
noutros telhados
novos urros e gemidos:
mesma vida, outro quadro.
e o tempo me grita espaço,
e me alarga, me devora
e acalanta lento meu novo canto,
meu espanto, meu silêncio.
mas eu grito, esbarro verbo.
urro gemidos e vidas
como urra o amor dos gatos.
(e as noites dividem o dia em tangos e fados).
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário