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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Outro lado



A agulha pede o outro lado do vinil


          Ruídos são preces
     para quem perdeu o trem

Para quem o caminho se torna mais longo
                           o consolo pode estar
                    nas folhas do outono

      No outro lado do tombo

(
O outro lado do vinil é ainda mais sombrio
— porque desconhecido —
Por isso os ruídos e a espera
)


E aquela tal nostalgia já não faz sentido
O trem se foi
             e ruídos podem ser pássaros
ou ecos de vozes que já não se ouvem
que se ficam guardadas
como conchas e o som do mar infinito


Mas para quem o trem traz conforto e mão amiga
a espera é como bagagem que não se larga
como o pulso que convida o resto do corpo
a bater uma batida sempre exata
uma batida que traga ruídos e fumaça








João Barcelos - "Maria Fumaça"

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