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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Da janela: rosas e espinhos


ainda lembro daquela imagem:


a roseira do jardim sobrando
e tendo asas sobre a grade

ofertando pétalas e espinhos
- perfumes -
para o quarto de dormir.


o quarto hoje pequeno
a roseira morreu.



mas quando
da janela
debruçavam-se sobre

o quarto
rosas e espinhos

as tardes mornas e claras
cobriam-se com

a calma e o brilho
dos dias eternos

dias de se construírem
tetos
sombras acolhedoras
para os dias
de calor e medo


mas a janela não abre
e o quarto não está vazio.
não há mais rosas ou espinhos.


o menino que andava aberto o peito
e sem sandálias

abria todas as janelas
e postava-se como num castelo

(dono do mistério
que há na face
escondida
de quem descobre
num só instante
a vida)

o castelo continua esguio
porém deserto

as torres
os segredos
perambulam sonolentos
o tempo de agora

e nesse castelo de sonhos
nesta hora
o menino
retorna ao quarto

que novamente o acolhe

com rosas e espinhos.


mas a janela não se abre
e o quarto não está vazio:


ainda há rosas e espinhos.




4 comentários:

Larissa disse...

Ainda há rosas! :)

Bárbara disse...

Assim como o poema "Nunca mais", também me identifico muito com este aqui. Sou também este menino de peito aberto e pés descalços, que não se importa que os outros não vejam mais a roseira, ele é "dono do mistério" porque enxerga beleza onde ninguém mais vê e sabe que as rosas e os espinhos continuam lá na janela. Não sei se foi esse o significado que você quis dar ao poema, mas foi assim que o senti.

O "éon" do poema anterior me exigiram uma "googlada", mas depois que entedi, percebi que o poema é para ser lido ao som da música que abre o filme "2001: Uma odisséia no espaço".

Tenho a impressão de ter visto um outro poema seu aqui no blog no fim de semana, um que falava sobre o frio da madrugada e monstros inquietos - péssima descrição, rsrsrs - que não está mais aqui. Por quê?

Bruno Ribeiro disse...

Há rosas sim, Larissa. Ainda bem! Linda foto.

Bárbara, sim, havia uns versos que falavam do "frio da (na) madrugada", mas não gostei do resultado e tirei o poema. rs
É que este blog, para mim, serve, pricinpalmente, como um laboratório para um futuro livro. Daí alguns poemas "sofrerem alterações", e até serem retirados.

Agradeço pela leitura e pela lembrança.

Quanto a este poema, eu pensei em algo por aí mesmo, mas, claro, poesia não tem dono, nem leituras únicas. Podemos ter "re-leituras" diversas, variações sobre o mesmo tema, né isso?

ah, eu também sou esse menino. rs

Sim, você me deu uma ótima ideia. Ler o poema anterior ao som daquela famosa música, e, talvez, assistindo ao filme.
O poema realmente é experimental.
Não sei o que acho dele, mas suspeito que ele está mais bem acabado do que este. Ainda não consegui dar forma aos versos que me frequentam...
mas, como disse antes, isto aqui é um laboratório, provavelmente, ainda vou trabalhar nele (s)
;
No mais, obrigado.

Pippa disse...

Es una pictura bonita! Me gusta los rosas.
(Is that right?...)